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‘A gente fica preso’: indígenas Yanomami reclamam das condições em casa de atendimento; local em Roraima enfrenta superlotação

Foto: Reprodução/TV Globo

O programa  Profissão Repórter da TV Globo que foi ao ar na terça-feira (02), visitou as instalações da Casa de Apoio à Saúde Indígena Yanomami. O local recebe os indígenas que estão com doenças mais graves e precisam receber atendimento de saúde dos hospitais na capital. Cada alojamento abriga um grupo étnico Yanomami específico. A equipe ouviu algumas reclamações dos Yanomami abrigados no local. Uma indígena menciona que eles não podem sair e entrar livremente. “A gente não sai. A gente fica preso e estão botando um muro bem alto. A gente tem costume de ficar preso, tipo um animal aqui dentro”. Outro abrigado reclama da qualidade da comida servida no local. “É muito ruim. A comida não é boa e tem muita diarreia aqui”, relata. No começo de março, 600 indígenas, entre pacientes e acompanhantes, estavam vivendo na Casa. O número ultrapassa a quantidade de vagas disponíveis na instalação. “Não é à toa que nós estamos em emergência. Nós temos aqui uma capacidade de 450 indígenas no total, mas comporta o quantitativo que a gente tem hoje”, afirma Rednaj Mota Santos, coordenador de enfermagem da Casa. O coordenador do Distrito Sanitário Yanomami, Marcos Pellegrini destaca os desafios com o esgoto e a falta de água potável.

 Foto: Reprodução/TV Globo

“Tinha mais de 800 pessoas em janeiro do ano passado. Os telhados foram recuperados, alguns banheiros ainda improvisados. Não tinha aqui água para beber, não tinha banheiro. Esgoto aqui não está maravilha, mas era céu aberto”, afirma. A falta de assistência permanente é atribuída principalmente às dificuldades de acesso à região. “Essa região aqui está mais movimentada no momento. É uma região que tem bastante problema de saúde. A gente não tem assistência permanente pela questão do acesso”, destaca Marcos Pellegrini.

Foto: Reprodução/TV Globo

A maior parte dos indígenas que estão abrigados na Casai sofre as consequências da malária, desnutrição, síndromes gripais e problemas respiratórios. Além disso, muitos chegam com ferimentos causados por conflitos com garimpeiros e invasores nas aldeias. “O ano passado tivemos surtos de diarreia aqui, transmissão de malária, né? E essas coisas têm sido controladas. Esse ano houve alguns casos de Covid e, nesses casos, a gente espera negativar para retornar para a área, mas isso diminui bastante”, diz Marcos Pellegrini.

 Foto: Reprodução/TV Globo

Para ouvir os indígenas que não falam português, a equipe contou com a ajuda de Richard Duque, mediador cultural do Médicos Sem Fronteiras, e Ênio, líder Yanomami da ONG Rutucara. Richard compartilha o relato de uma mulher Yanonami abrigada na Casai. Ela chegou ao local como acompanhante de sua filha e acabou se tornando uma paciente. A mulher, assim como outros abrigados na Casa, já recebeu alta e aguarda ansiosa para retornar para sua aldeia. Questionado, o coordenador do Distrito Sanitário Yanomami, Marcos Pellegrini, fala sobre o acesso restrito que os abrigados têm à cidade. “A gente tem colocado cerca, que isso tem dado muitos problemas, não só de ir para a cidade, como vir gente da cidade aqui. E né, querer trazer bebidas alcoólicas isso. Houve vários casos de estupros aqui na redondeza de mulheres, que foi noticiado. Então aumentamos o muro, nós vamos controlar como qualquer unidade de saúde. Ninguém entra e sai na hora que quer”. No dia da visita do Profissão Repórter, o refeitório estava em reforma. A promessa do Governo Federal era de que o espaço ficaria pronto até o final de março.. O governo também se comprometeu a fazer uma reforma completa da Casai e a implantar a unidade de retaguarda hospitalar aos povos indígenas para agilizar os atendimentos médicos na capital. No final da visita, uma surpresa: alguns pacientes foram chamados para retornar às suas aldeias devido a uma oportunidade de voo disponível. Após testes de COVID-19, eles são autorizados a voltar para casa. “Geralmente, nós temos algumas opções de voos, surgiu uma oportunidade de voo. Eles são chamados de imediato para regressar para a comunidade. Aí nesse momento, ele está no momento de tirar o material dos alojamentos. Vão passar por teste de COVID para regressar para a comunidade e assim voltar para onde é a origem deles”.

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