O Brasil consome em média 720 mil toneladas de agrotóxicos por ano. É o país que mais importa esse tipo de produto e um dos três que mais consome. Enquanto na União Europeia, houve uma queda de 3% no volume de agrotóxicos consumidos, no Brasil, no mesmo período, aumentou-se 78%. Quem trouxe esses dados foi a doutora em geografia pela USP (Universidade de São Paulo) Larissa Lombardi, durante o programa Três Pontos da quinta-feira (13). Para ela, esses números e a relativa falta de consciência da população sobre o assunto passam pelo lobby e propaganda desse setor. “Existe uma mobilização popular ainda tímida em função desse grau de exposição [às propagandas]. É óbvio que tem todo um lobby para, digamos, minimizar [a noção] do efeito dessas substâncias, para dizer que elas são importantes, que sem elas não existe agricultura, sem elas a gente não resolve o problema da fome. Essas indústrias atuam com um lobby impressionante, não só no Brasil, no mundo todo”, apontou a geógrafa. Segundo Larissa, há por parte das empresas a construção de uma narrativa que busca naturalizar a existência dessas substâncias na agricultura. “Como esse slogan [Agro é Pop, agro é tech, agro é tudo], que traz como se fosse algo positivo. Tem essa narrativa de que é moderno, de que é o que é necessário para produção de alimentos, estruturante para o combate à fome”, afirmou. Essa avalanche do uso do agrotóxico na agricultura teve início, explicou a geógrafa, durante a Guerra Fria, quando o mundo estava dividido entre o bloco socialista e o capitalista. Enquanto o primeiro tinha a proposta de enfrentar a fome com a igualdade de acesso aos bens, a solução para o segundo era o uso da tecnologia, com fertilizantes, pesticidas, maquinários agrícolas e agrotóxicos. “O dado mais expressivo para mim, que mostra que o uso de agrotóxicos não significa produção de alimentos, é: a quantidade de população rural que passa fome é superior proporcionalmente à quantidade de população urbana que passa fome. Então, o Brasil tem voltado, digamos, a sua economia para o mundo de uma forma extremamente subalterna que não responde aos anseios da população brasileira. Então, é um lobby, é uma narrativa, e uma historinha contada todos os dias, para que a gente ache que é assim mesmo que isso faz parte da agricultura”, afirmou.
Lobby e falsa narrativa de combate à fome camuflam o real impacto dos agrotóxicos, aponta geógrafa
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