É só setembro colocar o pezinho na porta que começa a corrida pelo preço do quiabo. Mas nem é necessariamente a pressa do consumidor interessado nos custos do caruru. É a imprensa sedenta para ver quem será o primeiro a revelar a imprescindível informação de que neste ano a média de preço do cento está um real mais caro e, usando sempre os mesmos trocadilhos infames, vai deixar o caruru do baiano mais salgado. Sempre os mesmos trocadilhos, os mesmos ingredientes, os mesmos cenários (coitada da Feira de São Joaquim) e, se duvidar, até os mesmos entrevistados, dizendo que até ontem o cento do quiabo estava R$ 20 e hoje, na cara mais lisa, já está R$ 25. Pode prestar atenção na expressão dos feirantes, nem os mais simpáticos conseguem disfarçar a impaciência. Quem dirá São Cosme e São Damião, há séculos sendo chamados para abençoar esse tipo de apuração urgente. É a CPI do quiabo para garantir audiência ou pelo menos ocupar espaço de programação. Quantas calorias tem o caruru, quais as melhores receitas, como escolher o seu quiabo, comprar na feira ou no supermercado, como não deixar ele babar. Não falta criatividade. Ou falta, sei lá. Até porque, três meses depois, será a vez do Papai Noel trazer mais criatividade para a corrida pelo preço do peru e do panetone. Claro, como o consumidor atravessará o mês de dezembro sem saber o preço desses itens? Sem saber que na Pituba o quilo da ave está R$ 2,24 mais caro do que a média de preço em Castelo Branco? E meses depois, na Semana Santa, é a vez de dissecar o preço dos peixes. Qual o mais procurado? O mais caro? O mais saboroso? O indicado para pessoas fitness? E para os geminianos? Os piscianos serão capazes de gostar de algum? Camarão, amendoim, castanha e até os temperos (coentro e cebola já presentes em qualquer feira semanal que se preze) entram na CPI para responder à pergunta: quem vai salgar a ceia da Semana Santa do baiano? O azeite de dendê também entra na novela. E já há previsão de lamentação, porque, com a queda registrada na produção da especiaria neste ano, ele deve ser o próximo vilão. Um prato cheio (mais um trocadilho habitual) para a imprensa. Vai ter associação dos produtores de dendê, agrônomos, economistas, nutricionistas e uma série de listas para falar sobre o desequilíbrio pagão na mesa das famílias. Setembro também chegou com o tempero (mais trocadilho) que faltava para impulsionar a CPI do preço do quiabo. Na semana passada, o caruru de Cosme e Damião foi reconhecido como patrimônio imaterial do estado da Bahia. O título foi aprovado, inclusive, por unanimidade e, não por coincidência, chegou exatamente neste período para deixar a série de matérias em busca do quiabo ainda mais saborosa (trocadilho). Desde o início da semana, repórteres já estão batendo ponto todo dia na Feira de São Joaquim. A Bahia é mesmo um universo à parte. Tem receita própria pra tudo, inclusive para cobertura jornalística, às vezes, com um tempero ou outro diferente, mas nada de abrir mão de tradições, aconteça o que acontecer fora das redações.
CPI do Quiabo: corrida para revelar o preço dos itens do caruru continua mobilizando imprensa em setembro
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